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Mostrando postagens de julho, 2017

Os invisíveis

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A rua sempre foi pública. Talvez, no passado, ela tenha sido até mais pública que nos dias de hoje. E por aquelas vias circularam dezenas de diferentes sujeitos. Pedintes, vendedores ambulantes, artistas de circo anunciando estreia, homens vendendo a salvação.  Um desses “comerciantes da salvação” era de um grupo de moços, vestidos com seus terninhos, todos com o cabelo raspado e pedia para entrar nas nossas casas, benzendo-as com a imagem de uma das Nossas Senhoras. Além da imagem que carregavam, os acompanhavam umas bandeirolas vermelhas bordadas com a figura de um leão. E bem ao gosto medieval. Garantia-se assim, que a pátria brasileira não seria importunada pelo comunismo. Outros tipos perambulavam e batiam palmas de casa em casa, anunciando suas presenças. Um deles eram mulheres com crianças no colo, apresentando-se maltrapilhas, quase todas com uma ferida exposta numa das suas pernas e esmolando uma “ajudinha pelo amor de Deus”.  De todos que circularam por aquela p

Os segredos dos construtores

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U m vídeo caseiro, desses que nós fazemos para registrar situações curiosas e inspiradoras do nosso cotidiano, circula pela rede social Facebook. Nele, um pai reboca uma casa e o enfoque dado é para o seu filho, um garoto entre oito a dez anos de idade, chapando massa na parede. Além de ajudar o pai no trabalho o menino também está começando a aprender um ofício.  Meu pai foi pedreiro. Aprendeu a atividade com Domingos Ciotto e seus irmãos Ourides, Raul e Velasco, os construtores da casa dos meus avós Vitaliano e Ermelinda, na Rua Ângelo Capovilla, no início da década de 50. Saídos do mundo rural para a vida urbana, meu avô percebeu ali a oportunidade para o seu filho mais velho capacitar-se numa profissão, sem se submeter a um patrão. Qualificou-se no exercício do fazer e construiu dezenas de casas proletárias na periferia valinhense nas décadas de 50 e 60. Em 1967 abandou essa profissão ao ser tragado pela fábrica, afinal, seus filhos cresciam e precisavam de assistência médic

Cheiro da nova estação

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E lá veio dezembro para dar fim nesse ano de 2016. Conturbado e mais cheio de baixos que altos nessa nossa nação brasileira. Costumeiramente, salvo alguns deslizes, um mês para estampar a esperança no novo que se aproxima.  Mas a surpresa nos reservou um aborto vindo do céu, e a tragédia se fez coletiva. O aborto também nos surpreendeu quando o ferreiro das palavras despediu-se da têmpera poética.  Ídolos da massa, massificada por um sentimento de dor coletiva, vimos a esperança depositada numa juventude do nosso país esvair-se na imbecilidade de sujeitos preocupados com o acumulo de “la plata”, quando deveriam terem sido cingidos pelo respeito, tal qual desejou Viracocha Pachacaiachi*.  As madrugadas, outrora inspiração dos poetas e boêmios, agora usurpados da criação, das belezas contidas nas melodias que encantaram gerações, e transformadas na condição sorrateira das maldades por maldosos. Sujeitos, que em tese, deveriam ser portadores da ética e construtores dos fios

Além do figo roxo

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A cordei numa manhã de chuva fina, tragado por uma obra do artista Marcos Guimarães, que emoldura a Câmara Municipal valinhense. Descobri que o Olimpo é mais perto do que sempre imaginei. Assistia a uma partida de xadrez de lances estranhos, sem muito estudo, desse ou daquele outro deus. A partida entediava e do Olimpo descobri a polis lá embaixo, habitada por alguns semideuses e milhares de mortais. Passo a investigá-la. Painel Comemorativo alusivo ao centenário de Valinhos   como Distrito de Paz, 1996 - Marcos Guimarães No horizonte avistei enormes plantações de cana de açúcar e muitos negros trabalhando sob um sol escaldante e chibatadas que por vezes feriam um ou outro. Vejo o feitor, homem embrutecido que avança sobre uma criança, seu pai abandona o árduo trabalho e trava luta com o feitor, senhor dos castigos e malvadezas. Defendendo sua filha, o negro da uma “piuvada” com a enxada na cabeça do agressor, que tomba inerte. O escravo foge e pega caminho em direção da cid

"Repara bem no que não digo" Paulo Leminski

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