Quando o apito...
No início de 2015, convivemos com
a notícia do fechamento do Clube da Rigesa, em nota, a empresa afirmou que o
alto custo de manutenção e o baixo número de sócios levaram a essa “difícil”
decisão. Dois anos depois outra notícia bomba caiu sobre a população
valinhense, e dessa vez, quem deixará a cidade definitivamente é a própria
Rigesa. Sua planta produtiva será transferida para outra cidade, devido “à
falta de condições para o crescimento e expansão da fábrica que está localizada
no centro da cidade”.
Centenas
de comentários nas redes sociais para a notícia e muitas críticas pela falta de
planejamento da cidade, que não se preparou para abrigar ampliações de plantas
produtivas já existentes e outras que pudesse aqui se estabelecer. Porém, os interesses imobiliários especulativos,
aqui faz morada. Com a saída dessa empresa todos nós perderemos. A ausência dos
seus impostos em breve serão sentidos e ainda mais na saúde, na educação, no
comércio, nos serviços, etc.. Mas ainda nos resta tempo, curto, para que os
sujeitos públicos ouçam a população e pensem a cidade dentro de uma proposta
para o coletivo valinhense.
A ordem
e ação do fechamento da "Rigesa" foram emitidas do seu centro do
poder, dos controladores do capital, e irá interferir de maneira decisiva na
(de) formação do espaço valinhense. A essa ação, o geógrafo Milton Santos
conceituou como verticalidade “as decisões essências concernentes aos processos
locais são estranhas ao lugar e obedecem a motivações distantes”. E nada poderão
fazer os nossos agentes públicos nessa questão pontual. Lembrando que os nossos
administradores tiveram tempo para pensar e traçar uma cidade diferente e que
avançasse.
Por
instantes me distancio dessa tragédia e fico ali pensando em longínquas manhãs onde
o segundo apito da fábrica nos avisava que era hora de pegar rumo. Naquela
primeira segunda-feira do mês de fevereiro de 1975, amanheci ansioso e cheio de
sonhos para um futuro que vislumbrava recomeçar a nascer. As 5h30 da manhã, lá
fui eu procurar o meu cartão ponto: Gérsio Pelegatti: Aprendiz,
Manutenção. O meu primeiro emprego com
carteira assinada. Minha mãe, zelosa, preparou um lanche com pão, mortadela e
uma garrafinha de café. Meu pai, operário nessa fábrica, todo orgulhoso, foi
minha companhia pelos próximos dez anos que viriam.
Pelo caminho fui encontrando outros
operários de copo e de cruz: Batata Zanelatto, Carlito e Nenê Rossi, Ernesto
Rigacci, Calim Ferrari, Barbin, Toninho Struciatti, Sérgio Manarini, Wilson
Rezende, Eber Foratto, Toninho Catelan, Laércio Sartori, Morivaldo Carnevalle e tantos outros
guardados e perdidos nas minhas lembranças. São desses sujeitos que sentirei
mais saudade com a partida da Rigesa!
(Operários - Tarsila do Amaral)
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Gérsio Pelegatti é
professor da História não aposentada
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