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Mostrando postagens de agosto, 2017

A morte foi uma festa?

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E m Junho de 1907, um jornal paulistano informava que a Câmara Municipal de Campinas autorizou a criação de um Cemitério no vizinho povoado de Valinhos. Em 1911 foi promulgada lei pelo executivo campineiro autorizando a construção. Dois anos depois, em fevereiro de 1913 a prefeitura era notificada pela Comissão Sanitária que o terreno “presta-se para o fim que se destina” . Em março as obras começaram e anunciava-se o dia 24 de Junho a inauguração do Cemitério.  A estação ferroviária de Valinhos dava o tom do crescimento daquele núcleo urbano. Até o mês de outubro de 1909 já haviam sido embarcadas 06 mil sacas de café, podendo chegar até 10 mil sacas ao final daquela safra. Sua importância econômica era destaque “poucas estações da Paulista terão tão grande movimento”. Em 1888, ano que ocorreu a abolição oficial da escravidão, as fazendas produtoras de café em Valinhos atraíram 1842 imigrantes europeus: italianos, portugueses, espanhóis, alemães e austríacos, conforme d

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A maro da Conceição decidiu deixar sua terra natal lá nos confins do interior paraibano. Cansado da exploração dos coronéis, da seca, da fome e da morte, vizinha da pobreza, sonhou a terra prometida no sul do Brasil. Plantado na beira da estrada empoeirada assistia os últimos instantes do gado agonizando enquanto esperava a chegada do pau de arara. Na trouxa levava uma muda de roupa e uma rede de dormir. Segurando firme no guarda corpo do caminhão, saltou pisando firme naquele tablado paupérrimo e lá se foi carregando no coração imensa saudade.  Após 10 dias sacolejando desembarcou na capital fluminense, arranjando abrigo no Morro do Adeus. Labutou como estivador, gari e pedreiro. O trabalho e aprendizado na construção civil o levaram para algumas dezenas de cidades do interior em busca do pão.  Homem de caráter firme e têmpera forte correu trecho pelo interior do país. Seu olhar atento compreendeu que as pessoas poderiam ter uma vida mais digna se houvessem mudanças nos háb

Que fim levaram todas as flores?

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D urante anos dona Leocádia fez quase tudo sempre igual. Saia da cozinha segurando um canecão com água fervida despejando-o numa bacia de ágata, acomodada sobre um tapete de juta no chão do quarto de banho. Num dos cantos do cômodo uma cadeira antiga aguardava aquele corpo exausto. Misturava na água sabão de cheiro, alecrim, arruda e massageava seus pés depois de um longo dia indo e vindo dos afazeres da casa. Feito seu ritual noturno, os enxugava com toalha de algodão branco com fios trançados na franja. Vestia sua roupa de dormir e acomodava seus pés num macio chinelo forrado com lã Merino, presente do seu primogênito, e seguia em direção ao quarto de dormir. Sentava-se na beira da cama, pertinho da janela e abria o seu livro sagrado. Elevava seus pensamentos ao altíssimo e com a voz baixinha rezava pelos seus entes queridos. Fazia oração especial para o seu filho e ficava ali entre tantas lembranças, em transe. Fechava o livro, beijava-o, acomodando-o sobre a cama. Com o ter