Incondicional
Nossos olhares se cruzaram pela primeira vez numa noite do feriado de 1o. Maio de 1992, após uma agenda como candidato a vereador. Comigo estava o nosso candidato a prefeito, juntos, erámos guiados pelas estrelas. As noites sempre foram as nossas anfitriãs para longas conversas acerca da poética que a cidade valinhense ainda dispunha. Os nossos sonhos eram retirados da poesia cotidiana, matéria-prima fundamental na composição do nosso extenso e ainda inacabado plano de governo.
Aquela noite fria distanciava um considerável número de clientes daquela pizzaria que um dia existiu ali próxima ao Alves Aranha. O aroma das massas e seus recheios misturavam-se ao odor dos sabonetes exalados por uma ou outra chaminé da Gessy. Daquela mesa que estávamos ouvíamos um ruído contínuo vindo da Rigesa e conseguíamos avistar as longínquas e poucas luzes noturnas que circundavam a cidade. Nelas residia um dos nossos desconfortos ao nos depararmos com uma proposta vinda de outro candidato a prefeito que defendia a ocupação de todos os espaços da cidade.

A semana que se inaugurava não conseguiu ser remada naquele costumeiro compasso de uma vida besta e interiorana. Meu barco a deriva recebe um mensageiro portando missiva embalada por papel com bordas verde e amarela exalando aroma de delicada fragrância. Minhas mãos tensas e umedecidas abriram aquele envelope com merecida delicadeza. Leio atentamente cada palavra e busco uma nova composição que as nossas vidas desejavam. A nau toma nova direção, agora cadenciada por um tambor batendo acelerado dentro do meu peito e juntos, eu e ela, aportamos no porto inseguro das paixões.
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Gérsio Pelegatti é professor da História não aposentada
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Gérsio Pelegatti é professor da História não aposentada
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