17 de março, 17h41

Confesso que não tenho medo da morte. Penso nela como nessas noites de sono profundo, fechar os olhos e lá fui eu. Aliás, pra que ter medo? Sempre me lembro do vampiro Nosferatu, e sua dolorosa busca pela finitude. Somente assim a vida fica completa, começar e fechar um ciclo.

Mas vendo a barbárie que se instala nas redes sociais nessas centenas de comentários humilhantes sobre a morte de Marielle, mulher, negra, militante me deixa atordoado. Sujeitos se refestelando na sua queda e sem perceberem - claro, o ódio ideológico os consome - que junto com ela estamos todos nós.


Ontem à noite me veio à lembrança antigos dias de magia numa sala de aula, daqueles adolescentes me perguntando: "como assim, é da natureza do homem a liberdade?" Pausava a voz e lhes explicava que todos os seres humanos, ao nascerem, trazem consigo o direito à liberdade. É nato ao Homem e somos livres. Não pode existir uma lei feita por outros nos "dando" esses direitos. Caso fosse, também existirão outros que farão outra lei nos retirando esses direitos. "Então Direitos Humanos é isso?" Sim!

Não bastou a morte, queda pela brutalidade daquilo que nos é natural. Agora tenta de todas as maneiras desclassificarem sua luta, sua cor, sua opção sexual, sua busca por um país de igualdades e possibilidades.

Não tenho medo da morte, nem de deus e nem do diabo. Tenho medo dessa gente baixa, autoritária, fascista: os desclassificados. E vocês não passarão!!!

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Gérsio Pelegatti é professor da História não aposentada

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