Para elas
Foi paixão
imediata. E bem diferente das daquelas ex-alunas que choravam pelo Justin.
Quando descobri a poetagem do Belchior num dia em 1976, vi luz no fim daquele
longínquo túnel que atravessávamos. Quanto sonhar com aquelas meninas, cabelo ao
vento, gente jovem reunida. Ah esse tango argentino...
Só quem
viveu aquelas tardes de sábado sabe quantos sonhos projetamos para o futuro.
Apesar da nossa pobre poesia valinhense, sabia que um novo sempre vê, e
Campinas, aqui ao nosso lado nos oferecia essa
efervescência. Noites a fio circulei o setor nessa busca e ali me eduquei.
Livros, teatros, exposições, rodas de conversas, artistas de diferentes
matizes.
Como fã incondicional do Belchior, comprei, talvez, o melhor lugar do teatro Centro
de Convivência e lá fui eu. Um banquinho, voz, violão e uma luz que me fazia
viajar. O poeta estava ali.
Fixou seu
olhar num ponto da plateia, que lotava de esperança aquela noite, e dedilhou
seu violão... "e quanto mais eu multiplico, diminui o meu amor". Num
relance de olhar, encontro um conhecido figurão, empresário de sucesso,
levantando-se da sua poltrona. Amarrou a cara e buscou com seu olhar uma porta de saída. Sumiu do local.
Até hoje
fico imaginando se aquele sujeito fez uma revisão na sua contabilidade. Quem
sabe um quanto mais eu divido, adiciono amor.
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Gérsio Pelegatti é professor da História não aposentada
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