Lindamente linda
Fiquei ali prostrado.
Olhando para a tela em branco do Word enquanto caçava uma ideia pra colocar no
“papel”. Elas teimavam fugir e esconder-se nos labirintos dos meus pensamentos.
Tenho produzido longas conversas e análises mentais sobre variados temas, arquivo-as
nas gavetas da memória. Por vezes, uma ou outra coisa é “debatida” num final de
tarde, durante um cafezinho. Mas de modo geral acabam sendo essas “teses” a
respeito do vazio existencial, sendo nadificadas.
Na manhã seguinte, a
consulta. Inicio minha peregrinação em busca da cura, o novo médico que procuro
foi indicação de um antigo conhecido, hipocondríaco de primeira grandeza, que já
sofrera da mesma moléstia que me castiga. Chego 15 minutos mais cedo e passo pela
burocracia dos consultórios. Assino papéis e sou encaminhado para uma sala de
espera, e enquanto aguardo ser anunciado investigo o lugar. Observo inúmeros
diplomas emoldurados que decoram uma das paredes do lugar. Levanto e faço uma
rápida leitura dos tantos cursos de qualificação do doutor. Fico aliviado, se
deus é pai o doutor é o papa.
A secretária entre na
sala e avisa que o doutor irá demorar mais “meia horinha” pra começar atender
seus (im) pacientes, uma urgência na Casa de Saúde retardará a sua chegada. Permaneço
ali, investigando mais uns diplomas, folheando Vejas, Caras e outros Pinóquios.
Cansado dessa velha e manjada desculpa
coloco meu olhar para descansar.
Um novo sujeito é
conduzido até a sala acomodando-se no sofá de espera. Meu olhar amansa naqueles
gestos delicados que se acomoda a minha frente. Vestimentas num tom verde,
perna esquerda cruzada sobre a direita, antebraço esquerdo descansando sobre o
joelho e as mãos segurando os gestos da delicadeza. Imaginei a atriz Lauren Bacall,
e a provoquei para uma conversa. Fina e com um sorriso delicado em meros 10
minutos de prosa respondeu a todas as questões que não consegui fazer. A minha
frente estava 90 anos. A história que eu buscava.
No seu tempo, o tempo
presente! A cidade, o pai, os irmãos, a fazenda, a educação, o trabalho, o
casamento, o medo da chuva, os filhos, os netos, a política, a crítica, a
violência, suas angústias e suas esperanças. O marido, um homem como outros
homens, mas “ele era suave por dentro”.
Saí curado do consultório
e pensando nessa segunda semana de outubro, dia das crianças, da santa e do
professor. A criança que necessita ser provocada para ser educada e no idoso
que necessita da nossa atenção provocativa. Nas suas histórias a nossa
reeducação. Suavidade sempre!
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Gérsio Pelegatti é
professor da História não aposentada
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