Primeiras lições econômicas
A
fábrica era perto da minha casa, ali no bairro do Serrote. Meu pai, naquele
tempo, todo dia vinha almoçar em casa. Uma época que não existiam refeitórios
nas empresas. Os operários ou levavam marmitas ou davam uma pernada até suas
casas para almoçarem. Porém, a maioria levava pão com algum tipo de recheio e
uma garrafinha de café e lá pelas 9h da manhã dava uma parada para uma
boquinha.
Aquela
manhã foi de pagamento e de posse do seu salário, meu pai chegou para o almoço
e colocou o dinheiro na mão da minha mãe. Era ela que organizava a casa e
também administrava os investimentos do mês.
Depois que almoçamos meu pai ainda teve tempo para me
explicar o difícil problema de matemática que empacava a minha tarefa escolar. Nossa
então era isso? Perguntei para os meus botões. Tarefa finalizada e uma tarde
para assistir a desenhos e folhear a revista Recreio.
Minha mãe limpou a cozinha, tomou banho,
vestiu sua roupa de missa, pegou a sombrinha e estava pronta para ir até a
cidade. Compras no armazém, passar na loja do Miguel Abib, na loja da Turca,
comprar um bilhete da loteria federal, uma fezinha no jogo de bicho e por
último visitar a nona Gabriela e o nono Silvestre, que moravam ali na esquina
das ruas Antônio Carlos com a Cândido Ferreira.
Nos dias de compras de mantimentos eu não ia
junto. Ficava em casa aguardando o carroceiro que vinha entregar a despesa.
Minha mãe abriu sua carteira e me entregou uma nota novinha de cinco cruzeiros.
Era para pagar o senhor Dalben, depois que entregasse os víveres.
A campainha da casa alerta a chegada do
carroceiro. Depois dos mantimentos terem sidos organizados sobre a mesa da
cozinha, entrego a ele aquela nota com a esfinge do Barão do Rio Branco. Ele
pega o dinheiro e anuncia que o preço mudou, o frete foi para seis cruzeiros. Espantado,
lhe digo que minha mãe falou cinco cruzeiros. Ele retruca dizendo que a
gasolina tinha subido. Eu, de pronto, lembro a ele que o cavalo era movido pelo
capim. Ele ri, e me alerta que o capim chegava até na cocheira de caminhão. No
mês seguinte paguei sete cruzeiros.
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Gérsio Pelegatti é professor da História não aposentada
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Gérsio Pelegatti é professor da História não aposentada
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